A doença celíaca, também chamada de enteropatia sensível ao glúten, é um problema hereditário que afeta principalmente pessoas de descendência norte-europeia, mas que está cada vez mais presente em outros países. Relata-se que até 1% da população sofre de doença celíaca, porém esse número provavelmente é subestimado. Isso significa que existem pessoas vivendo com a doença e continuam sem diagnóstico.

A doença celíaca é uma doença autoimune – um distúrbio no qual o sistema imunológico produz certas proteínas (ou “anticorpos”) que reconhecem partes específicas do corpo como “estranhas” e, consequentemente, montam um plano de ataque. Exemplos de outros problemas autoimunes dos quais você já pode ter ouvido falar são a artrite reumatoide, a doença de Graves, a diabetes tipo 1 e o lúpus.

No caso da doença celíaca, o sistema imunológico monta um ataque quando o glúten (uma proteína do trigo) é ingerido na dieta. Quando isso ocorre, o sistema imunológico inflama e fere o revestimento superficial do intestino delgado em resposta ao glúten consumido, produzindo sintomas indesejados. Felizmente, esse processo costuma ser reduzido quando o glúten é removido da dieta.

O fator complicado da doença celíaca é que os anticorpos produzidos não só atacam o sistema gastrointestinal, como também podem atacar outras partes do corpo, das articulações até a pele. Portanto, as pessoas podem apresentar uma variedade de sintomas vagos, que podem ser confundidos com muitas outras doenças. E, infelizmente, isso pode tornar o diagnóstico da doença celíaca um desafio.

A doença celíaca também é facilmente confundida com outros problemas comuns do trato gastrointestinal, como a intolerância à lactose e a síndrome do intestino irritável (SII), dificultando ainda mais o diagnóstico. Portanto, é importante que você se familiarize com os sintomas da doença celíaca e seja examinado(a) se achar que pode sofrer da doença – principalmente se você tiver um membro da família afetado.

Sintomas da doença celíaca

Manifestações do trato gastrointestinal são comuns em celíacos. Porém, eles podem ser leves, vagos ou até mesmo ausentes. Pacientes com sintomas no trato gastrointestinal costumam relatar os seguintes sintomas:

  • Diarreia
  • Fezes com forte odor
  • Desconforto abdominal
  • Flatulências
  • Inchaço
  • Partes de muco ou gordura nas fezes (pode indicar má absorção)

Outros sintomas gastrointestinais costumam acompanhar a doença celíaca, e é importante notar que, algumas vezes, esses podem ser os únicos sintomas que o paciente apresenta. Esses sintomas incluem alguns outros sintomas mais raros, como:

  • Fadiga
  • Perda de peso não-intencional
  • Dor nas articulações
  • Sintomas neurológicas: dores de cabeça, neuropatia periférica (formigamento/dormência nas mãos ou pés)
  • Sintomas psiquiátricos: depressão, ansiedade
  • Brotoejas com coceira (chamadas de “dermatite herpetiforme”)

Complicações da doença celíaca

A doença celíaca não só pode causar sintomas de distúrbio como também pode afetar a qualidade de vida, mas também apresenta o risco de algumas complicações potencialmente séries caso não sejam tratadas, como:

  • Anemia
  • Deficiências de vitaminas: folato, vitaminas do complexo B, e as vitaminas lipossolúveis, D, E, A e K
  • Baixa densidade óssea (osteopenia, osteoporose)
  • Doença renal
  • Doença no fígado
  • Restrição de crescimento em crianças
  • Problemas como linfoma e cânceres do trato gastrointestinal
  • Desenvolvimento de outras doenças autoimunes

Essas complicações são os motivos pelos quais é vital identificar corretamente as pessoas que sofrem de doença celíaca – visto que muitas dessas complicações são evitáveis depois do diagnóstico e do tratamento.

Diagnóstico da doença celíaca

Caso você apresente sintomas de doença celíaca, o seu médico pode lhe examinar utilizando, primeiramente, um exame de sangue. Porém, é importante notar que o exame tem maior probabilidade de resultar em um diagnóstico se o paciente estava consumindo uma dieta rica em glúten. Se você parou de ingerir o glúten e o exame for realizado, ele pode resultar em um falso-negativo (apresentando falsamente que você não tem a doença, quando de fato você a tem).

Em adultos, o primeiro exame preferível é o de sangue, que foca no anticorpo chamado de anti-transglutaminase tecidual (TTG) imunoglobulina A (IgA), e possui uma falta precisão de cerca de 98% (desde que o paciente esteja consumindo uma dieta rica em glúten). Caso o teste seja positivo, o próximo passo costuma ser uma indicação para o gastroenterologista, para uma biópsia do duodeno, a parte inicial do intestino delgado, que normalmente apresenta ferimentos e inflamações microscópicas características no seu revestimento, o que normalmente confirma o diagnóstico.  

Tratamento da doença celíaca

Felizmente, existe um tratamento relativamente simples para a doença celíaca – evitar o glúten na dieta. Para sempre. Não precisa tomar um remédio todos os dias.

Porém, é muito mais fácil falar do que fazer – pois o glúten é um componente de muitos alimentos que consumimos, sendo um desafio eliminá-lo. Além disso, encontrar alternativas livres de glúten pode, às vezes, parecer uma caça ao tesouro. Porém, com cada vez mais pessoas optando por uma dieta livre de glúten por vários motivos (não necessariamente devido a um diagnóstico de doença celíaca), a indústria alimentícia e muitos restaurantes agora oferecem mais opções livres de glúten do que nunca. Hoje, existem vários produtos livres de glúten disponíveis no mercado, incluindo mistura para panqueca, macarrão, lanches e assados.

Note que uma dieta livre de glúten nem sempre é a escolha mais saudável se você não tem a doença celíaca, colocando você em risco de muitas outras deficiências nutricionais, como de ferro, folatos e vitaminas importantes. Converse com o seu médico antes de decidir abandonar o glúten, e certifique-se de fazer exames para confirmar uma doença celíaca caso apresente os sintomas.

É importante ter certeza de que você está obtendo certos nutrientes e vitaminas na dieta se você abandonar o glúten. Se você não conseguir obter tais nutrientes a partir da dieta, certifique-se de fazer uma suplementação com folatos, vitaminas do complexo B e as vitaminas lipossolúveis D, E, A e K. Tome cuidado, pois alguns suplementos ainda podem conter glúten, então é importante ler os rótulos para selecionar aqueles que são livres de glúten.

Apenas para dar uma ideia, aqui está uma lista de ingredientes a serem evitados se você foi diagnosticado(a) com a doença celíaca:

  • Trigo
  • Centeio
  • Cevada
  • Algumas vezes, aveia

Preste atenção aos seguintes alimentos que costumam conter glúten, principalmente quando comer fora de casa:

  • Massas
  • Pães
  • Bolachas
  • Assados
  • Cereais
  • Tortilhas
  • Barras de proteína
  • Batata-frita
  • Frios
  • Substitutos da carne
  • Molho de soja
  • Acompanhamentos de saladas
  • Sopas
  • Cerveja

Sempre leia o rótulo do alimento para confirmar que ele se adequa aos requerimentos da Federal Drug Administration (FDA) – rótulos de produtos sem glúten indicam que o alimento “inerentemente não contém glúten” ou contém menos de 20 partes por milhão (ppm) de glúten.

Referências:

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