O cérebro humano é um sistema maravilhosamente complexo que requer uma ampla gama de nutrientes para funcionar adequadamente. Inteligência, memória, comportamento e concentração são todos influenciados por uma nutrição cerebral adequada. Jovem ou idoso, nosso status nutricional desempenha um papel vital na determinação do bom funcionamento do nosso cérebro. 

Um dos problemas com a pesquisa médica é a obsessão em identificar o impacto de fatores isolados e como eles afetam a saúde humana. Quando se trata de nutrição e cérebro, este tipo de linha de pesquisa é uma abordagem boba. Um estudo da Universidade de Oxford destaca o quão importante é observar a interação entre apenas dois nutrientes básicos do cérebro — ácidos graxos ômega-3 e vitaminas B — e a sua capacidade de prevenir o declínio mental relacionado à idade.

A Nutrição do Cérebro

Um grande número de evidências científicas mostrou que inteligência, memória, comportamento e concentração são influenciados pela nutrição adequada do cérebro. Mas, na maioria das vezes, esta pesquisa analisou fatores individuais e não suas interações. Um estudo conduzido pelo Departamento de Neurociências Clínicas de Oxford envolveu 156 pacientes idosos com algum comprometimento cognitivo leve e um alto risco de demência e doença de Alzheimer. Os pacientes foram divididos em dois grupos: um grupo tomou um suplemento diário contendo 800 mcg de ácido fólico, 20 mg de vitamina B6 e 500 mcg de vitamina B12; o outro grupo tomou um placebo como suplemento.

Antes da experiência e durante o período de testes, os pesquisadores usaram imagem por ressonância magnética (IRM) para medir os níveis de atrofia da matéria cinzenta nos cérebros. O atrofiamento (encolhimento) da matéria cinzenta é um sinal da progressão da doença de Alzheimer e de outras formas de demência.

Após a conclusão do estudo de dois anos, os pesquisadores descobriram que aqueles que receberam o suplemento de vitamina B apresentavam cerca de sete vezes menos encolhimento da matéria cinzenta do que o grupo do placebo. Os pesquisadores também descobriram que aqueles cuja matéria cinzenta encolheu mais rápido tinham níveis mais altos de homocisteína, e aqueles com maiores níveis de homocisteína receberam inicialmente o maior benefício dos suplementos de vitamina B.

Em sua conclusão, os pesquisadores declararam: “Nossos resultados mostram que a suplementação de vitamina B pode retardar a atrofia de regiões cerebrais específicas que são um componente essencial do processo da doença de Alzheimer e que estão associadas ao declínio cognitivo”.

Outro fator nutricional fundamental para o funcionamento cerebral adequado são os ácidos graxos ômega-3 de cadeia longa EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido docosaexanoico) encontrados em peixes e suplementos de óleo de peixe. A importância dos ácidos graxos ômega-3 para o funcionamento cerebral está relacionada ao seu papel na composição de fosfolípidos das membranas das células nervosas. Estudos demonstraram que o EPA e o DHA influenciam:

  • A fluidez das membranas das células cerebrais;
  • Síntese de neurotransmissores;
  • Ligação de neurotransmissores;
  • Transmissão de sinais;
  • A atividade das principais enzimas que decompõe neurotransmissores como serotonina, epinefrina, dopamina e norepinefrina.

Estudos clínicos com o suplemento de EPA e DHA de óleos de peixe em pacientes com uma variedade de condições psicológicas, incluindo transtorno de déficit de atenção (TDA) e depressão, comprovam a importância da suplementação para aumentar os níveis de EPA e DHA. Óleos de peixe também parecem ser importantes na proteção contra o declínio mental relacionado à idade e na doença de Alzheimer.

Aumente os Benefícios da Vitamina B

Embora a pesquisa já tenha estabelecido que os suplementos de vitamina B e os ácidos graxos ômega-3 podem ajudar a diminuir o declínio mental em pessoas idosas com problemas de memória, a interação entre essas duas abordagens nutricionais foi menos examinada. Uma equipe internacional liderada pela Universidade de Oxford e pela Universidade dos Emirados Árabes Unidos descobriu que ter níveis mais altos de ácidos graxos ômega-3 no cérebro aumenta os benefícios das vitaminas B no funcionamento cognitivo leve.

A equipe estudou mais de 250 pessoas com comprometimento cognitivo leve (MCI) em Oxford. O MCI reflete um estágio intermediário entre o declínio cognitivo esperado do envelhecimento normal e o declínio mais grave da demência. Pessoas com comprometimento cognitivo leve podem ter problemas com memória, linguagem, raciocínio e julgamento, mas geralmente não em um grau que cause problemas significativos em suas vidas cotidianas e atividades usuais.

 O comprometimento cognitivo leve pode aumentar o risco de progressão mais tarde para a doença de Alzheimer ou outra demência, mas nem todos com MCI progridem para a demência. 

No início do estudo, cada pessoa recebeu um conjunto de testes para medir sua cognição e fez um exame de sangue para determinar os níveis de ácidos graxos ômega-3 EPA e DHA no sangue. Os participantes foram divididos em dois grupos selecionados aleatoriamente que receberam um suplemento de vitamina B ou uma pílula de placebo ao longo de dois anos. Seus desempenhos cognitivos também foram avaliados e os resultados comparados com os resultados de linha de base do início do estudo. 

O que os pesquisadores descobriram foi que para pessoas com baixos níveis de EPA e DHA, o suplemento de vitamina B teve pouco ou nenhum efeito. Mas para aqueles com níveis elevados de EPA e DHA de linha de base, as vitaminas B foram muito eficazes na prevenção do declínio cognitivo em relação ao placebo. Estes resultados são uma reviravolta porque mostram uma interação clara e que vitaminas B apenas diminuem a taxa de atrofia cerebral do MCI naqueles com um bom nível de EPA e DHA

A equipe de pesquisadores agora está desenvolvendo um estudo para realmente testar a combinação de vitaminas B e EPA e DHA no abrandamento da conversão do MCI para a doença de Alzheimer.

Principais Fatores Nutricionais:

Aqui está algo que é muito importante que as pessoas saibam. Medicamentos não funcionam para melhorar o MCI. Em uma avaliação sistemática financiada pela Rede de Eficácia e Segurança de Medicamentos do Instituto Canadense de Pesquisas em Saúde, foram usados oito ensaios clínicos randomizados e 3 relatórios complementares para avaliar a segurança e a eficácia de vários medicamentos chamados de “impulsionadores cognitivos” (donepezil [Aricept], rivastigmina [Exelon], galantamina [Razadyne] ou memantina [Namenda]) no comprometimento cognitivo leve.

Os resultados mostraram que estes medicamentos NÃO melhoraram a cognição ou o funcionamento entre pacientes com MCI e foram associados a um maior risco de efeitos colaterais, especialmente náuseas, diarreia e vômitos, do que com o placebo. Os pesquisadores concluíram “Nossas descobertas não apoiam o uso de impulsionadores cognitivos para comprometimento cognitivo leve”. 

A conclusão é que o objetivo principal para impulsionar a função cerebral é dar um banho de “supernutrição” no cérebro, pois numerosos estudos mostraram que o funcionamento cerebral está diretamente relacionado ao status nutricional. Um alto status nutricional é igual a um funcionamento mental mais elevado. 

Os principais fatores dietéticos que reduzem o risco de demência e doença de Alzheimer a partir de estudos com base na população são o consumo mais elevado de peixe (e ácidos graxos ômega-3), ácidos graxos monoinsaturados (principalmente de azeite), o uso leve a moderado de álcool (principalmente vinho tinto), e o consumo maior de vegetais e frutas não amiláceas. É provável que seja a combinação de todos estes fatores que fornece o mais alto grau de proteção contra qualquer fator dietético individual.

Mirtilos ou extratos de mirtilo são alimentos particularmente úteis. Em estudos em animais, os pesquisadores descobriram que mirtilos ajudam a proteger o cérebro do estresse oxidativo e da perda de memória. 

Além da dieta, faz sentido tomar uma fórmula de múltiplas vitaminas e minerais de alta potência para suplementar o cérebro com supernutrição. Também faz sentido tomar de 1.000 a 3.000 mg de EPA e DHA (combinados) de um óleo de peixe de qualidade. Uma ingestão mais elevada destes ácidos graxos ômega-3 está associada a altos índices de humor e funcionamento mental. 

Se os sintomas de deterioração mental estiverem definitivamente presentes em uma pessoa de 50 anos ou mais, eu recomendaria tomar fosfatidilserina. A fosfatidilserina (PS) é um nutriente crítico para qualquer pessoa com funcionamento mental comprometido. A PS desempenha um papel importante na determinação da integridade e fluidez das membranas das células cerebrais. Mais de uma dúzia de estudos duplos-cegos mostrou que a fosfatidilserina pode melhorar o funcionamento mental, o humor e o comportamento em pacientes com doenças cerebrais degenerativas. A dosagem recomendada é 100 mg três vezes ao dia.

Referência:

  1. Douaud G, Refsum H, De Jager C, Jacoby R, Nichols T,  Smith S, and Smith D. Preventing Alzheimer’s disease-related gray matter atrophy by B-vitamin treatment. Proc Natl Acad Sci. 2013 Jun 4; 110(23): 9523–9528.
  2. Oulhaj A, Jernerén F, Refsum H, Smith AD, de Jager CA. Omega-3 Fatty Acid Status Enhances the Prevention of Cognitive Decline by B Vitamins in Mild Cognitive Impairment. J Alzheimers Dis. 2016 Jan 6;50(2):547-57.